Excalibur 2555 A.D. - Game Trashback



O contexto do mercado de games em 1996 e 97 orbitava, em grande parte, ao redor do sucesso de um título estrondoso que redefiniu conceitos e gerou tendências: Tomb Raider. Lançando os jogadores no papel da arqueóloga aventureira gostosa Lara Croft, o jogo da Eidos Interactive fazia uso inteligente da perspectiva em terceira pessoa e de cenários tridimensionais, inspirando uma leva de produtos que o seguiram. Entre tantos influenciados, existem os que utilizaram as ideias como suporte para evoluir o gênero e os que simplesmente repetiram a fórmula sem muitas alterações (alguns sendo clones descarados). É mais perto da segunda parcela que encontramos o Trashback de hoje, Excalibur 2555 A.D.

O game é de 1997 e foi produzido pela Telstar Studios para Playstation 1 e PC. Como em Tomb Raider, o personagem é controlado por meio de uma visão em terceira pessoa, que possibilita grande interação com os arredores, além de grande diversidade de posições de câmera por vezes angustiantes como em  Resident Evil. As verdadeiras diferenças entre Tomb Raider e Excalibur estão na qualidade geral e no cuidado com os detalhes.


Viagem temporal na maionese


Beth faria qualquer coisa por Excalibur, inclusive negociar com bandidos
A trama do jogo vai longe e consegue combinar ficção científica pós-apocalíptica com a lenda britânica do Rei Arthur, uma mistura complexa e um tanto difícil de digerir. Em resumo, a história começa no ano de 2555, num futuro ameaçador e desolado. A superfície da Terra está inabitável, forçando os habitantes a rumar para enormes metrópoles subterrâneas. Pra completar, o mundo é tomado por uma constante e impiedosa batalha entre facções.  Um fanático líder espiritual e mago (e você achando que ia se livrar de referências fantásticas), Delevar, coloca em ação um plano infalível de dominação mundial. Utilizando uma máquina de viagem no tempo, volta ao século V e rouba a espada Excalibur do Rei Arthur (é, a coisa é feia).

Preocupado com o roubo e com o consequente colapso da paz no reino, o famoso mago Merlin decide contra-atacar enviando sua sobrinha, a pobre coitada Beth, ao futuro com a missão de recuperar a espada mística. É no meio dessa salada toda que o jogador aterrisa, assumindo o controle da sobrinha do mago em sua aventura no futuro distópico, enfrentando monstros, marginais e robôs.

Croft e Beth

Pode-se dizer que Lara Croft tornou famoso um modelo de personagem carismático e que rouba a cena em todos os momentos do jogo. Tudo girava em torno de suas habilidades e possibilidades no cenário. Em Excalibur, a tentativa foi de fazer algo parecidocom Beth. Digo tentativa pois Beth é um apanhado de pixels destoantes em formato de guerreira. É óbvio que as limitações da computação gráfica também contribuem, mas basta comparar Croft com Beth para ter uma noção das disparidades no cuidado com o design.


Lara Croft e Beth: disputa acirrada em termos de estética desagradável

Quanto à mecânica, Excalibur 2555 A.D. prioriza um sistema de exploração e coleta de itens que permite a progressão no jogo. Quase tudo funciona com trocas de materiais ou favores e você acaba percorrendo os 11 níveis do jogo pra arranjar algo pra trocar com alguém. Nem preciso dizer que, com o tempo, o processo torna-se exaustivo e maçante.

Vale a pena?

A lista de inconsistências técnicas e de design de Excalibur 2555 A.D. é extensa. Exemplos não faltam:

  • o jogo não possibilita salvamento, apoiando-se num atrasado recurso de passwords que faz o jogador recomeçar sem nenhum item que tinha guardado;
  • o sistema de combate é lento e a resposta ao joystick/teclado é ineficiente, muitas vezes frustrando as tentativas de ataque e fazendo você levar dano do inimigo enquanto tenta levantar sua espada;
  • a ambientação é confusa e a trama se perde já no começo. Você acaba se acostumando com a ideia de procurar e trocar itens para progredir e matar o vilão, sem grande profundidade ou envolvimento com a história;
  • bugs povoam todos os cenários, com direito a inimigos imortais que resistem a todos os golpes e forçam o jogador a sair correndo.

Jogar Excalibur 2555 A.D. de cabo a rabo pode mostrar-se um desafio à paciência e disposição de qualquer gamer bem-intencionado. Porém, seria injusto ignorar as (poucas) virtudes do jogo. Apesar de tentar aproveitar-se do sucesso de Tomb Raider, Excalibur pode agradar os fãs de ação em terceira-pessoa e interessar àqueles que gostariam de entender melhor a evolução do gênero, partindo de suas origens.

Entre seus atributos positivos, destaco um sistema de mapas muito funcional e boas dublagens dos personagens, algo raro em jogos até os dias de hoje.


Em linhas gerais, Excalibur 2555 A.D. é um produto instável e que oferece entretenimento relativo, por vezes frustrando mais do que divertindo.


1 devaneios:

  1. Acredito que esse jogo copiou também o Residentes Evil 1, por causa dos quebra-cabeças pra resolver. Já os inimigos indestrutíveis que te obrigavam a fugir eu achei um ponto positivo. Pelo menos pra mim, foi a primeira vez que vi um protagonista sendo obrigado a fugir da luta em um game. Isso me surpreendeu.

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