Trending Topic - Lulu, Tubby e a superexposição na internet

Nas últimas semanas um tal de Lulu deu o que falar nas redes sociais. No aplicativo, as mulheres podem avaliar por meio de hashtags amigos, ex-namorados, interesses amorosos e parentes. Na minha timeline, vi amigas divididas entre a opinião de que enfim poderiam dar o troco nos homens pela opressão machista e outras afirmando que o tal app é ridículo e uma coisa não justifica a outra. Vi também homens revoltados correndo para tirar seu perfil do aplicativo. Houve até mesmo relatos de processos civis abertos e tentativas de suicídio devido ao recebimento de notas baixas.


Em meio a tantos textos chiliquentos e discussões acaloradas sobre machismo e feminismo, resolvi baixar o tal clube da Luluzinha 2.0. E achei uma droga. Como levar a sério um aplicativo que usa HASHTAGS para avaliar qualquer coisa? Desde quando é defeito um cara #UsarRider ou #CurtirRomeroBritto? Achei tão bobinho que encarei como uma piada, só mais um aplicativo pra dar risada com os amigos num sábado à noite.


Mas teve gente que não achou tão bobinho assim e quis se "vingar". No meio da semana passada foi anunciado o Tubby (referência ao Bolinha, amigo da Luluzinha das HQs) e então a brincadeira ficou pesada. As hashtags nonsense - como #MaisBaratoQuePãoNaChapa - deram lugar a outras de apelo sexual, de #EngoleTudo e #CurteTapas, dentre outras piores que certamente virão. Fora o boato de que o método de retirada dos perfis do Tubby, na verdade, seria uma artimanha para conseguir coletar mais dados sobre as meninas.


O que ninguém esperava é o que viria no dia do lançamento do Tubby. Sob a hashtag #AEsperaAcabou, foi lançado um vídeo que aparentemente explicava o funcionamento do app. Porém, ao ativar as legendas em coreano, a mensagem dita pela "desenvolvedor" coreano era outra:




"Pessoas não são objetos, e a intimidade de um relacionamento, por pior que tenha sido, não pode ser exposta dessa forma. Esse tipo de aplicativo pode até ser 'mera brincadeira', mas dão (sic) as ferramentas para pessoas anonimamente fazerem estragos na imagem pública das outras, caso ainda mais grave nos dias atuais em que observamos intimidades filmadas por ex-namorados vazando na rede e tende repercussões drásticas".
Segundo o comunicado, o aplicativo machista na verdade era um hoax e fazia parte de uma campanha criada por Guilherme Salles e Rafael Fidelis, com uma ajudinha do Maurício Cid (que até explicou a ~brincadeira~ em seu blog, o Não Salvo), contra a objetificação das pessoas. Essa história sobre ser tudo uma grande trollagem pra conscientizar as pessoas ainda está me cheirando um pouco ao Rei do Camarote (ainda não fui convencida de que tudo aquilo era mentira), mas gera uma boa discussão. A informações recolhidas pelo Lulu estão disponíveis para qualquer um no Facebook e os próprios termos da rede social (aqueles que você aceitou sem ler, sabe?) dão chancela para a existência de aplicativos assim. Uma matéria do G1 replica bem essa abertura: "o aplicativo está de acordo com os termos do Facebook, que permite a apps externos utilizar determinados dados de usuários — condição aceita por todos os cadastrados na rede social". O ponto de discórdia é o uso das informações no app caracterizar uma "ofensa a honra", como destaca a mesma reportagem. Tanta discussão em torno do assunto fez com que o Ministério Público do Distrito Federal instaurasse um inquérito civil público contra o Facebook e o aplicativo Lulu, que atingiria o Tubby, caso ele fosse realmente lançado.

Em meio a tanta falação em torno desse assunto, outra notícia preocupante relacionada à superexposição passou quase desapercebida. Um usuário 4chan, popular fórum anônimo da internet conhecido por ser o berço de muito memes, transmitiu ao vivo sua tentativa de suicídio no último final de semana no Canadá. O garoto, que é estudante da Universidade de Guelph e mora num dormitório, ingeriu medicamentos, tomou vodka e colocou fogo em seu quarto, tudo isso enquanto era transmitido para 200 pessoas atrás de uma plataforma de broadcast online. O vídeo continuou sendo transmitido até a entrada de bombeiros que o resgataram no local. O jovem foi identificado apenas como Stephen, de 20 anos.  Apesar dos boatos surgidos no Twitter sobre a morte do usuário, ele foi levado para o hospital, onde permanecia em estado grave, sem risco de morte.


A principal pergunta a se fazer nesse caso é: o que leva as pessoas a extremos como esse? Por que nos expomos tanto? O desespero por atenção já chegou a um ponto crítico e já passou da hora de repensarmos algumas atitudes virtuais. `Às vezes, por pura preguiça de ler ou tomados pelo impulso do momento, aceitamos qualquer coisa que nos é proposta na internet e quando menos esperamos vemos nossas informações sendo replicadas e divulgadas livremente por aí. Fora as milhões fotos e informações pessoais que postamos por vontade própria, sem pensar nas consequências que podem acarretar. Nesses nossos tempos em que a vida virtual tem se tornado mais importante que a vida real, é preciso tomar muito cuidado com o tipo de coisa que se compartilha na rede. A zoeira pode não ter limites, mas o bom-senso tem sim.