Adaptações de filmes para games são normalmente contraditórias. É claro que devem ser levadas em conta as dificuldades e desafios envolvidos no transporte da linguagem cinematográfica para a interativa, algo que pode ser comparado ao caso de filmes baseados em livros e mesmo games baseados em livros (ou ainda os infames filmes baseados em jogos, dificilmente melhores que lixo). A experiência é alterada, muitas vezes de maneira profunda, e o enredo é modificado consideravelmente. Em outras palavras, a essência do produto final é totalmente diferente daquela do original.
Exemplos de adaptações bem-sucedidas são raros, sendo muito mais fácil listar os fracassos e os resultados não muito satisfatórios (o que renderia uma série de posts individuais, no mínimo). No Game Trashback de hoje conversaremos sobre uma adaptação de fidelidade duvidosa: Robin Hood - Prince of Thieves, um jogo de 1991 da Sculptured Software/Virgin Games para o NES, baseado no filme de mesmos nome e ano, que contou com Kevin Costner no papel do famoso ladrão e que ainda tinha nomes como Christian Slater e Morgan Freeman no cast.
"Então ele rouba dos ricos?"
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os diferentes modos de jogo |
A mecânica não foge muito da esperada para RPGs de ação, com muitas conversas, exploração, missões e progressão com níveis de experiência. O mundo é surpreendentemente grande para um jogo do começo dos anos 90, oferecendo um tempo considerável de gameplay. Robin ainda vai encontrando aliados que integram seu grupo no decorrer da saga.
As animações são ótimas, com uso interessante de sombras e perspectiva. Mesmo a trilha sonora merece destaque, com boas músicas que entram na cabeça e fazem você ficar horas cantarolando. Os efeitos sonoros também não deixam a desejar, gerando uma atmosfera imersiva.
O lado ruim
O segundo problema está na manutenção do enredo. Toda adaptação requer manipulações da trama, mas no jogo em questão isso acontece de maneira exagerada. A história do filme não foge muito da lenda de Robin Hood, o arqueiro errante que "rouba dos ricos e dá aos pobres" e que luta contra a tirania do xerife de Nottingham, na Inglaterra, encontrando amigos e conflitos no caminho. Pois bem, boa parte do jogo deveria seguir essa premissa, certo? Muito errado. Não estranhe se, no meio de sua saga, enfrentar um demônio esqueleto gigante (!!!), guardião de uma masmorra. Ou ainda lobos famintos e javalis que explodem quando atacados, jogando ossos para todos os lados (!!!!!). Fica bem evidente que os produtores do jogo usaram algumas "licenças poéticas" no trato da história, que chega a beirar o absurdo em alguns momentos.
Surge então outra problemática importante: o sistema de menus do jogo. Em um RPG, você espera menus completos para cobrir um vasto leque de ações e decisões. Em Prince of Thieves, você vai se perder em um verdadeiro labirinto de janelinhas para realizar a operação mais simples. Você mata um inimigo desafiador, que carrega consigo um item essencial para a sua jornada, e tem que caminhar até sua carcaça, abrir o menu, escolher "procurar", ler a mensagem "Robin achou um item!", escolher "pegar", ler "Robin pegou o item!" e sair do menu. Ufa, não é pra qualquer um.
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o Kevin Costner do jogo parece mais um boneco de cera |
"Mas é mesmo um lixo?"
Depois de ponderar os prós e os contras, é possível concluir que Robin Hood - Prince of Thieves não é um produto totalmente descartável, mas longe disso. O game apresenta algumas das primeiras tentativas de certos recursos no gênero RPG de ação, com os diferentes modos de jogo implementando o gameplay de maneira inusitada e agradável. Por outro lado, os problemas e falhas do jogo afetam consideravelmente o resultado final, prejudicando um melhor aproveitamento.
Colocando um pouco de minha opinião pessoal, posso dizer seguramente que Prince of Thieves foi o primeiro jogo com uma verdadeira sensação de épico que joguei na vida. Lembro perfeitamente da grande dificuldade de algumas partes e da grata satisfação ao chegar nos créditos finais. Indico pra todos que ainda não experimentaram. Pode ser uma grande oportunidade de notar que os RPGs de ação não pularam direto de Zelda para Diablo e Torchlight.
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