Com tanta coisa pra se fazer na Campus, a última coisa que precisávamos era de alguém escrevendo uma espécie de folhetim. E é pra isso que o Nóia está no time! Confira as experiências desse gordo, barbudo e rabugento durante sua estadia na CPBR 2013, nessa série que se estenderá até o último dia do evento.
É uma merda como tudo
costuma dar errado justo quando não pode. Lógico que hoje não
seria muito diferente.
E, pra variar, tudo
começa com um atraso.
Já estava programado:
sair de casa às cinco, chegar no meu tio às nove, dormir
meia-noite, acordar às cinco e seguir pro Anhembi. Tudo certo,
programado e cronogramado. E lógico que, como foi programado e
cronogramado por mim, ia dar merda.
E isso ficou ainda mais
evidente quando, ao chegar na casa de meu tio, ele estava me
esperando com uma garrafa de Chivas em cima da mesa e uma moqueca no
fogo.
Dar merda: sim ou
claro?
Depois de virar
praticamente sozinho uma garrafa de uísque e cair na cama quase
inconsciente de bêbado às três da matina, coloco o celular pra
despertar às 5; tomar um bom banho gelado, comer alguma coisa e ir
tranquilamente pra estação pegar o trem.
E então acordo
assustado vinte pras nove, ainda muito bêbado, e saio correndo
puxando minha malinha enquanto abotoo a camisa e mando mensagens para
Deus e o mundo avisando que iria atrasar um pouco pra chegar. Sem
banho, sem escovar os dentes, sem comida, meio bêbado e ainda
fedendo a álcool – ou seja, me sentindo o perfeito clichê do
jornalista.
No fim o atraso não
foi tão grande assim; de minha previsão inicial de chegar no
Anhembi às 8 da manhã, acabei aparecendo bufando e descabelado ao
meio-dia – ou seja, nada muito diferente do normal. E,
incrivelmente, descobri que não havia perdido NADA. O que,
conhecendo a organização brasileira para grandes eventos, posso
dizer que, novamente, não era nada muito diferente do normal.
Imagina na Copa....
Enfim, ainda não
estava na Copa mas já estava na Campus – ou, ao menos, na frente
de uma enorme porta de vidro fechada escrito Campus Party, onde um
bando de nerd carregando suas casas nas costas se amontoavam e
esperavam que alguém desse um sinal – qualquer sinal – de que
podiam entrar no local. Mas tudo o que nos falavam era que o raio-x
não funcionava – afinal, que porra de feira tecnológica não tem
um técnico que entenda de raio-x, fale russo e faça malabares com
hambúrgueres? Será que no meio de toda essa galera nerd não tinha
ninguém, NINGUÉM, que preferia o Bruce Banner ao Wayne? E então o
que restava fazer era esperar....e esperar....e esperar mais um
pouco.
E era bom usar aquele
tempo para praticar todas nossas habilidades em espera, já que o dia
parecia fadado àquilo.
Já passava das duas
quando foi liberada a entrada e podíamos, finalmente, tirar nossas
malas do chão, colocá-las nas costas e curtir mais uma hora de fila
para cadastrar nossas entradas e ganharmos um lindo crachazinho roxo
com nosso nome escrito num garrancho à caneta; coisa profissa é
outra história.
Mas aquilo não era
importante: a única coisa que importava em plena três horas da
tarde – e uma puta larica de ressaca – era onde que a gente ia
pra comer. E bora perguntar pra organização. “Fala com aquele
lá.” “Vai pra lá e fala com tal pessoa.” “Segue aquele cara
com o crachá” e “Porra! Vocês ainda não comeram” foi tudo o
que escutamos em cerca de uma hora andando a esmo e esperando na mesa
a boa vontade de alguém achar que, apesar de ser gordo, eu precisava
comer.
Júnior Lima tentando me levar pra banda dele |
Mas como campuseiro não
se fode sozinho, a espera serviu para aumentar nosso “grupo Login”
em mais algumas pessoas, entre elas a Barbie da Terra-Média que fez
a a cabine do Hobbit – seja lá o que for isso – e Júnior Lima,
o Durvalzinho, vulgo irmão da Sandy. Agora por que alguém famoso
resolve andar com esse povo sem futuro do Login, bem....sei lá.
Talvez pelo bullying. Porque, no fim, a partir daquele momento nossa
presença na campus se resumiu a isso. Bullying no coordenador, nos
voluntários, no tio do restaurante, na tia do guarda-volumes, no
segurança...basicamente, em qualquer coisa que se mexia.
É incrível a
capacidade de, num lugar com tanto nerd pseudoadolescente feliz na
vida, fazer amizade com povo mais velho, ranzinza, que adora zoar a
nerdaiada e que a cada cinco minutos quer mandar tudo a merda e ir
pro bar.
Já passavam das quatro
quando finalmente conseguimos alguém para liberar o almoço – ou,
pelo menos, o que sobrou dele. E entre as conversas do almoço –
muita merda, às vezes até literalmente – sou obrigado a escutar
coisas como “vocês vão ver, amanhã isso daqui vai lotar de nego
gordo, barbudo e seboso...” Hey! Qual o preconceito com nego gordo
e barbudo?!
Sair do almoço e
seguir direto para a ala “workshop 1” para receber treinamento.
Ou, pelo menos, era essa a intenção; o que se viu foi cerca de
cinquenta campuseiros com cara de que não estavam entendendo nada
sentados numa cadeira e ouvindo durante cerca de uma hora alguém da
organização se desculpando pelo fato da internet não estar
funcionando e ele não poder apresentar pra gente o sistema.
“Pessoal, amanhã,
sete horas da manhã, a gente se reúne pra definir as áreas de
trabalho de cada um.”
Ótimo. Mas, que horas?
Sete horas. Onde? Sete horas. Procurar quem? Sete horas. Sete horas.
Sete horas.
Tuuuuudo bem. Sete
horas então. Mais uma fila perdida.
Sete e meia e todo
mundo indo pras barracas perceber uma coisa – quase ninguém tinha
trazido cadeado. E então finalmente teríamos algo para fazer, um
objetivo, uma missão para a nossa estadia: caçar algum lugar em São
Paulo que vendesse cadeado. E lá fomos nós atrás de um táxi.
“Bora pro Center
Norte camarada!”
“Quanto foi o
Parmera?”
“3x2 Penapolense.”
“Mentira que o
Parmera perdeu.”
“Cara, nem me fala
daquele time de bosta!”
E então, durante cerca
de cinco minutos, tivemos uma bela conversa com o Augusto, o taxista
que nos presenteou com um ótimo arsenal de xingamentos e ameaças
contra a diretoria e jogadores dignos apenas de um torcedor que ama
seu time. E, incrivelmente, essa foi uma das conversas mais
interessantes da semana.
O que talvez indique
que talvez esteja na hora de eu rever minhas amizades.
Vocês podem achar que
não, mas como é difícil achar cadeados em São Paulo às oito da
noite dum domingo!
Eu, Shakira e Alex –
a dupla de podcasters café com leite e esse vagabundo que vos fala –
ficamos quase uma hora andando perdido pelo shopping, esbarrando em
várias lojas fechando e um supermercado em que o cadeado havia
acabado. O tempo se esgotava – já eram oito e meia, e precisávamos
estar no Anhembi no máximo às nove pra pegar a janta – e a
musiquinha do Missão Impossível já podia ser ouvida enquanto
andávamos perdidos pelo estacionamento cada vez mais vazio do Lar
Center – onde achar cadeado naquela porra de lugar?
Um luz no fim do túnel
– ou, no caso, no fundo do estacionamento.
Decathlon.
Lá tinha que ter. Não
era possível que alguém tivesse acabado com todos os cadeados da
cidade. Era nossa última opção, e para lá seguimos, com fé de
que nossa busca estava chegando ao fim.
Finalmente tínhamos
encontrado – o Santo Graal, A Montanha da Perdição, A Princesa
Que Não Estava Em Outro Castelo. O cadeado!
Dezesseis contos cada.
Uma facada! Mas era o que tinha, então o jeito era comprar os oitos
e voltar o mais rápido possível pra Campus. Afinal, ainda tinha a
janta.
A janta!
A janta que quase foi
um puta migué. “Ticket, por favor?” Ééééé......QUEM TAVA
COM A PORRA DOS TICKETS??!!
Isso é alguém trabalhando, acredite |
Anda pra lá, anda pra
cá, fala com um, fala com outro, procura em tal lugar, não tá lá
no cartering? O fato é que, depois de esperar, esperar e....esperar
o dia inteiro, nada como dar mais duas voltas pelo pavilhão inteiro
procurando quem tem os tickets pra janta enquanto faltavam só dez
minutos pro restaurante fechar. E quem foi que disse que num lugar
cheio de nerd não há emoção?
Mas, depois de muitas
corridas, tiradas sarcásticas, porras, caralhos, puta merdas e caras
de cãozinho sem dono, finalmente conseguimos achar a porra do
caralho do ticket de merda.
Jantar, banho e cama?
Seria isso, não fosse
descobrir que a internet finalmente estava funcionando! E, como bom
nerd ranzinza e gordo de merda que eu sou, pra que banho e cama né?
O jeito é passar a
madrugada no Facebook e jogando Jesus Machup enquanto me preparo pra
amanhã, que vai ser foda.