Shaq-Fu - Game Trashback




Plataforma: Mega Drive, Super Nintendo, Game Gear, Game Boy e Amiga
Desenvolvedoras: Delphine Software International (Mega Drive e SNES), Tiertex (Game Gear), Unexpected Development (Game Boy) e The Dome (Amiga)
Ano: 1994


O início da década de 90 foi um período em que podíamos esperar por qualquer coisa. Garotas fazendo danças sensuais embaixo do chuveiro com um top branco e microssaia enquanto Zezé de Camargo & Luciano tocavam o seu mais recente sucesso? Check. Kreator tocando sem playback na TV aberta às três da tarde? Check. A maior estrela do rock mundial se matar com um tiro de escopeta porque não sabia se divertir? Check. Descobrir que o maior craque em atividade do futebol era, na verdade, um aspirador de pó? Check. Mas algumas coisas conseguiam ultrapassar até mesmo as barreiras de bizarrice – muito elevadas, diga-se de passagem – da época. E uma dessas coisas, sem dúvida nenhuma, foi Shaq-Fu.



Shaq quem?

Se você é um daqueles manés nerds que não se interessam por qualquer coisa que se assemelhe a exercício físico, deixe-me explicar algo pra vocês: já falei que vocês são manés? no distante mundo da década de 90, existia um esporte que estava em plena ascensão no mundo todo, chamado basquete, aqui eu poderia fazer uma piada muito ruim com boquete mas, se vocês não sabem o que é um, também não devem fazer ideia do que é o outro e vão continuar sem entender nada, então deixa quieto que era levado para os mais longínquos cantos do mundo na esteira do sucesso de Michael Jordan, não só o maior jogador de todos os tempos da modalidade como também o primeiro que soube atrelar o marketing pessoal à habilidade, e que ajudou a tornar a NBA a liga bilionária e galáctica que é hoje. Mas não apenas Jordan e os Bulls faziam a alegria do pessoal da costa leste; a terra do Mickey também proporcionava bons espetáculos dentro de quadra, com um Orlando Magic comandado pelo recém draftado (pra quem não sabe, o draft é uma espécie de seleção que há no começo de cada temporada da NBA, onde as equipes profissionais escolhem os garotos que acabaram de sair da universidade para jogar profissionalmente, normalmente com os times de piores rendimentos da liga podendo fazer as primeiras escolhas, pegando para si atletas promissores e fazendo o que podem para aumentar a força dos times com um salário mais baixo, o que talvez possam fazer com que esses times mais fracos possam lutar de igual para igual com as grandes franquias cheias de estrelas) Shaquille O'Neal, o central que, em suas duas primeiras temporadas na NBA, conseguiu alcançar médias de 26.4 pontos, 13.6 rebotes e 3.5 bloqueios por jogo, levando o time de Orlando para os playoffs pela primeira vez na história da franquia e se tornando uma verdadeira estrela do basquete americano com apenas 21 anos. Um estrelismo tão grande que fez com que alguns desenvolvedores achassem que ele tinha carisma suficiente para estrelar um jogo de videogame próprio.


Habemus Shaq-fu!

E como é fácil de notar, Shaq-Fu tem esse nome por causa de Saquille O'Neal. Mas de onde vem o fu? Será que...ahã, vem de lá mesmo. Como frisei bem no começo desse texto, o início da década de 90 primava por suas bizarrices em cada esquina, então, por que no mundo dos games isso seria diferente? Como era muito fácil fazer um jogo de basquete estrelando Shaquille O'Neal (apesar dele já ter aparecido para a versão arcade de NBA Jam), e até mesmo o estilo ainda não estava consolidado como algo que agradasse a todos os jogadores, chegou-se à brilhante conclusão de “por que não fazer um jogo em que Shaq luta kung-fu em um mundo paralelo?” SIM! POR QUE NÃO??!!! E foi dessa brilhante conclusão que surgiu Shaq-Fu, um dos jogos de luta mais brilhantes que o mundo já viu.


MAS, POR QUE???!!!!

Antes que vocês me perguntem “cara, quem foi o gênio que teve a ideia brilhante de colocar jogadores de basquete lutando kung-fu?”, irei lhes responder logo que o cara foi o Bruce Lee. Uns 20 anos antes. Em 1972, Bruce Lee já havia filmado algumas cenas de Jogo da Morte, um filme que foi lançado postumamente apenas em 1978, pensado por Lee para mostrar todas as vantagens da arte marcial que ele havia criado, o Jeet Kune Do. E, entre os tantos atores que o mestre chinês chamou para seu filme, estava Kareem Abdul-Jabbar, um de seus discípulos de Jeet Kune Do que, por coincidência, também era uma estrela da NBA e se tornou o maior cestinha da história da liga (chegando à por enquanto imbatível marca de 38.387 pontos. Para se ter uma ideia, o único jogador ainda em atividade que está nessa lista é Kobe Bryant, que é o quarto maior pontuador, com 31.434 pontos e 34 anos). Ou seja, como já podíamos esperar, esse é mais um trashback que copiou um monte de coisa tosca pra lançar um produto ainda pior que os originais.



Finalmente, a história

Shaq-Fu não é apenas sobre Shaquille O'Neal lutando kung-fu, mas sobre Shaquille O'Neal lutando kung-fu para salvar o mundo! A história se passa em Tóquio – lógico, porque Tóquio é o lugar onde estão as coisas toscas que todo mundo gosta, tipo o Godzilla e o japonês de cabelo pixaim que atende pelo nome de Jaspion, ou mesmo o Jiban, aquele Robocop com
senso de humor. E também porque se fizessem o jogo em Orlando a Disney provavelmente iria querer uma parte do orçamento – onde Shaq está concentrado para um jogo que irá levantar fundos para a caridade. E então, passeando um pouco pela cidade, ele acaba entrando numa casinha super estranha que na verdade é um dojo de kung-fu – agora, o porquê de um astro da NBA em visita à Tóquio, com tantos lugares turísticos para se ir, resolve entrar num pequeno dojo caindo aos pedaços numa rua deserta? Não me pergunte. Mas o fato é que ele entra e, não só dá trela pra um velho que fala que ele é o escolhido, como ainda o convida para entrar num portal que leva a outro mundo e resgatar o menino Nezu. E SHAQ ACEITA! Claro, por que não aceitar né? Não como se ele tivesse um All-Star games pra jogar e tudo o mais. Mas, quem é Nezu? Ora, pra que saber disso? Um menino está em perigo, e não temos laranjas! SHAQ PARA O RESGATE!!!!!

Gameplay

Qualquer semelhança com Mortal Kombat é pura cópia mesmo. Como podem perceber, não só a história da estrela do basquete que luta kung-fu, como a do portal para salvar alguém em outra dimensão é toda retirada de outros títulos de sucesso. Mas não podemos dizer a mesma coisa sobre o gameplay. Bem diferente dos títulos de sucesso da época – leia-se Street Fighter e Mortal Kombat – o jogo possui um esquema de lutas que mistura um pouco de cada um desses dois jogos – a diferenciação entre golpe fraco e forte de Mortal Kombat e o botão específico para provocação de Street Fighter estão presentes – mas o esquema de luta é bem diferente de ambos. Enquanto as batalhas em si lembram muito mais o World Heroes de Mega Drive, mas que possui um mapa bem mais parecido com um RPG: você controla Shaq por uma várias ilhas, e precisa visitar os lugares e vencer todos os adversários delas para conseguir o acesso para a próxima ilha, e onde deve-se continuar fazendo a mesma coisa até finalizar o jogo. Vários inimigos se opõe ao herói, como um príncipe árabe com espadas (numa clara referência à Prince of Persia), uma mulher meio pantera (a Cheetah da Liga da Justiça), ou mesmo no vilão final do jogo, Sett-Ra (uma espécie de Mumm-Ra dos Thundercats com a armadura do Destruidor das Tartarugas Ninja), podemos perceber que não há um pingo de originalidade nesse jogo, o que mostra que não é porque algo é totalmente diferente de qualquer coisa que já foi produzida que ele necessariamente precisa ser novo.



A influência

Apesar de tudo, Shaq-Fu ainda influênciou as gerações futuras e o mundo externo. Como? Ou, POR QUEEEE???!!!!! Novamente, isso é algo que eu não consigo explicar. Mas uma parte dessa influência pode ser vista nesses exemplos:









Shaq-fu.com

Um fansite? Desde quando um fansite é algo que vale menção? Calma, shaqfu.com não é um fansite. Na verdade, é o exato oposto. A missão do site é justamente convencer as pessoas que possuem uma cópia do game a vendê-los em pontos especializados para que essas cópias sejam DESTRUÍDAS! Entre as razões para fazer isso, eles afirmam que essa destruição é importante para “prevenir as próximas gerações de serem corrompidas pelo mau inerente do jogo” e que “tirá-lo das mãos de outra pessoa sumirá com toda a vergonha que ela possa sentir por possuí-lo [o jogo Shaq-Fu]”. Apesar da inciativa ser tão original quanto o game – já que a Atari já fez isso com ET – o que a torna válida, como defensor de jogos ruins peço para que qualquer leitor que possua uma cópia de Shaq-Fu em casa não entre em contato com esses monstros sem nenhum bom gosto.

Shaq UFC

A possibilidade de Shaquille O'Neal ser um lutador foi levada tão à sério que ele foi colocado como um lutador secreto no clássico do MMA UFC Undisputed 2010. Para habilitar o mestre das enterradas e calar a boca do Anderson Silva, tudo o que o jogador precisa fazer é, na tela título, apertar DIREITA, CIMA, ESQUERDA, DIREITA, BAIXO, ESQUERDA, CIMA, DIREITA, BAIXO, ESQUERDA, X, Y, Y, X e START para habilitar o macho man das quadras. Sim, não é DLC, é CÓDIGO NA TELA DE ÍNICIO, o tipo de coisa trOoOo que é digno de nosso lutador (?) predileto.


Sim ou não?

Como você tem coragem de me perguntar isso?! É UM JOGO DE LUTA COM O SHAQUILLE O'NEAL!!!!! Esse é o tipo de coisa que você simplesmente não pode deixar de jogar.



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